quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Talvez, um mundo perfeito. 1


A sala estava cheia de caixas. Tudo entulhado na verdade. Sobre uma mesa, muitos copos esperavam ser embalados e este seria o meu serviço. Tudo era muito branco e transparente: as paredes, o chão, os copos... Apenas as caixas eram marrons, o que entrava totalmente em contraste.
Quase meia-noite e eu ainda embalava copos, simplesmente não entendia: pra que tantos copos? Perdendo-me e resmungando para essa pergunta, não vejo quem chega de mansinho...
- Oi.
Miguel.
- Ai meu deus vai dar susto em outro! E se eu quebro um dos copos?
- Oh! Aí nos teríamos que ti tirar do país para que não seja assassinada - ele disse rindo – Enfim, mais você ainda ta fazendo isso?!
- Ai nem fala, mais acho que isto é quase uma terapia, porque você reúne a maior quantidade possível de paciência.
- Posso imaginar – ainda aos risos – Eu te ajudo.
- Valeu.
Eu adorava conversar com esse menino, ele era engraçado e absurdamente prestativo.
- Até que enfim você e os copos vão se mudar ... agora que a gente vai se ver mesmo.
- É verdade não acredito que vou voltar a ser sua vizinha... vamos enjoar um do outro.
- Ah eu duvido, não enjoamos até agora...
- Tantos anos ... como é que eu ti agüento moleque?!
- Você me ama e não sabe. – disse Miguel tentando jogar um olhar sedutor, depois caindo na gargalhada.
- Argh, cara convencido.
E assim ficamos, eu, ele e os copos durante um bom tempo, várias vezes ele correu um risco de levar um copo na cabeça, mais isso são ossos do oficio. Até que conseguimos terminar. Só restavam as caixas, o que não tirava ao ar de bagunça.
- Ai chega, vamos subir? - perguntei e ele
- Vamos – respondeu Miguel com um bocejo.
Miguel passou tanto tempo longe e ‘ausente’, mas seus gestos eram os mesmos, a mão que ele levava aos olhos quando estava com sono. Mugel perdeu a memória em um acidente de carro. Foi uma das coisas mais frustrantes pra mim. Mais agora ele parecia tão ‘Miguel’, tão igual... Não conseguia parar de observar, pensei que ele nunca ia se recuperar e mesmo se recuperasse não ficaria tão igual como antes, parece que nada tinha acontecido....
- Clara? Clara?! Acorda...
- Ai desculpa, vamos.
- Mais é uma loira mesmo... as vezes o cérebro trava. – antes de terminar ele já havia corrido escada acima por que desta vez ele tinha certeza de que um copo voaria na cabeça dele.
Não joguei o copo, por que ainda estava pensando naqueles sentimentos, mais fiquei rindo sozinha como sempre. Com dificuldade sai da sala, pulando as caixas. A sala estava silenciosa e descobri o motivo quando passei pelo relógio no meio da escada.
- Deus do céu! São 2 e meia da manhã
Olhei para Miguel no topo da escada.
- Eita - Ele disse coçando a cabeça – acho que não dá mais pra voltar pra casa.
- Obvio que não, fica aí, amanha eu ti despacho junto com os copos, já que vão pra mesma rua. – rindo desta vez foi eu que corri para o quarto pra escapar de um tapa.
- Ta tão engraçada você... é bom porque quero ti contar uma coisa que lembrei.
- Ta mais faz isso sem por o tênis em cima da minha cama! Tira!
- Tirei

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