quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Talvez, um mundo perfeito. 2

Segunda parte.


...
Meu quarto era o mais era o mais intacto, arrumaria tudo no outro dia.
- Hein – Miguel me chamou encostando o rosto na mão, deitado na minha cama, enquanto eu pegava meus pijamas. – Faz tempo que a gente não conversa, como anda o namoro?
- Faz 25 dias que a gente não se fala... acho que nos acostumamos
- A que?
- A ficar longe...
- Como assim ?
- É que nos víamos pouco...
- É claro – ele disse – imagine alguém te agüentar todos os dias? Iria endoidar!
Uma almofada voou para a cabeça dele, mas a criança nem se abalou continuou rindo da minha cara. Sim, atirar coisas era uma mania nossa. Éramos adeptos a : falar não adianta, haja!
- Mas tu não perde uma, hein? – eu disse
- Ah é tão bom irritar você...
Eu suspirei, lembrando do assunto anterior.
- Sabe aqueles textos prontos que as pessoas tem para dizer como acabou um namoro? Tipo....
- Acabou? – eu não percebi que ele deu um enorme sorriso.
- Não interrompe o raciocínio! - respirando fundo eu continuei – Tipo : ‘ A gente brigava muito’ ; ‘ Ele não ligava pra mim ‘ ; ‘ A gente não combina’; Sei lá, nada disso serve pra mim, não sei porque a gente terminou, ficou tudo tão normal...
- Eu já disse, ele não ti agüentou, provavelmente saiu da cidade sem deixar rastros...
Desta vez um tamanco voou.
- Para caramba! – eu disse rindo, não era possível ficar séria com uma pessoa daquela. De repente ele estava de pé.
- Vou por uma música.
- Ok, eu vou tomar banho... quer que eu pegue algo pra você se trocar?
- Não, eu trouxe na mochila.
- Ah, a sua intenção já era se apossar do meu quarto?
- Só estava com saudade das nossas palhaçadas...
- Sei... – fui até o banheiro que ficava no meu quarto, tirei as roupas e entrei para tomar banho. Sentir a água caindo foi um alivio, uma sensação de calmaria, de conforto. Do quarto a música invadia o banheiro, era estranho eu me sentia leve, não parava de agradecer a minha vida, era como se ela fosse perfeita. Não precisava de mais nada.
Saindo do banheiro a cama dele e a minha já estavam montadas.
- que prestativo você... – eu disse rindo
- Sempre.
Deitei na cama, olhando o teto, respirando fundo, deixando aquela musica me contaminar, aquele ritmo bom, leve, fechei os olhos...
- Ce ta dormindo? - veio a voz de miguel.
- Ainda não, só to ouvindo a múscia.
- Pode apagar a luz?
- Pode, desliga o som e cnata pra mim?
- Ma é folgada mesmo, ca...
- Olha.
- Desculpe.
Ele apagou a luz e eu senti instantaneamente meus olhos descansarem. O vento fresco que vinha da varanda do meu quarto, tirava um pouco do calor que estava naquela época, e a luz da lua era forte. A leveza e a tranqüilidade que eu sentia continuavam...
- Vô canta então... “ nana neném, que a cuca vem pegar...”
- Ah vai toma banho menino.
Ce acabando de rir, ele limpa a garganta e recomeça.
- “Um dia todas as coisas
Serão clarar e leves
Como meu sentimento
Por você
Pois você só se sente bem comigo
E eu com você.”
É claro que aquela letra não significou nada até aquele momento. Eu amava a voz dele, eu amava aquele ritmo, eu amava aquela vida.
Até que...
- Clara?
- Hmmm...
- Que bom que você não soube explicar porque acabou...
- Por que é bom?
- Desculpa mais, isso quer dizer que o sentimento não era tão grande assim...
- Poxa, e isso é bom?
- É...
- Por quê?
- Porque – ele relutou em responder – eu não gosto de dividir você com ninguém...
Eu abri meus olhos. O tom da voz dele havia mudado, não estava rindo ou brincando e eu acho que tinha caído a minha ficha...
- O que você lembrou Miguel, que você queria me dizer?
- Que no dia que eu sofri o acidente, eu estava indo ver você, pra dizer algo que eu não agüentava mais guardar...
A minha respiração estava ficando mais forte.
- Bom eu também não gosto de ter que me dividir... mas o que você queria falar?
Ele saiu da cama dele, e sentou no chão ao lado da minha...
- Que.. desde dos meus 5 anos, eu amo você.



continua.

Talvez, um mundo perfeito. 1


A sala estava cheia de caixas. Tudo entulhado na verdade. Sobre uma mesa, muitos copos esperavam ser embalados e este seria o meu serviço. Tudo era muito branco e transparente: as paredes, o chão, os copos... Apenas as caixas eram marrons, o que entrava totalmente em contraste.
Quase meia-noite e eu ainda embalava copos, simplesmente não entendia: pra que tantos copos? Perdendo-me e resmungando para essa pergunta, não vejo quem chega de mansinho...
- Oi.
Miguel.
- Ai meu deus vai dar susto em outro! E se eu quebro um dos copos?
- Oh! Aí nos teríamos que ti tirar do país para que não seja assassinada - ele disse rindo – Enfim, mais você ainda ta fazendo isso?!
- Ai nem fala, mais acho que isto é quase uma terapia, porque você reúne a maior quantidade possível de paciência.
- Posso imaginar – ainda aos risos – Eu te ajudo.
- Valeu.
Eu adorava conversar com esse menino, ele era engraçado e absurdamente prestativo.
- Até que enfim você e os copos vão se mudar ... agora que a gente vai se ver mesmo.
- É verdade não acredito que vou voltar a ser sua vizinha... vamos enjoar um do outro.
- Ah eu duvido, não enjoamos até agora...
- Tantos anos ... como é que eu ti agüento moleque?!
- Você me ama e não sabe. – disse Miguel tentando jogar um olhar sedutor, depois caindo na gargalhada.
- Argh, cara convencido.
E assim ficamos, eu, ele e os copos durante um bom tempo, várias vezes ele correu um risco de levar um copo na cabeça, mais isso são ossos do oficio. Até que conseguimos terminar. Só restavam as caixas, o que não tirava ao ar de bagunça.
- Ai chega, vamos subir? - perguntei e ele
- Vamos – respondeu Miguel com um bocejo.
Miguel passou tanto tempo longe e ‘ausente’, mas seus gestos eram os mesmos, a mão que ele levava aos olhos quando estava com sono. Mugel perdeu a memória em um acidente de carro. Foi uma das coisas mais frustrantes pra mim. Mais agora ele parecia tão ‘Miguel’, tão igual... Não conseguia parar de observar, pensei que ele nunca ia se recuperar e mesmo se recuperasse não ficaria tão igual como antes, parece que nada tinha acontecido....
- Clara? Clara?! Acorda...
- Ai desculpa, vamos.
- Mais é uma loira mesmo... as vezes o cérebro trava. – antes de terminar ele já havia corrido escada acima por que desta vez ele tinha certeza de que um copo voaria na cabeça dele.
Não joguei o copo, por que ainda estava pensando naqueles sentimentos, mais fiquei rindo sozinha como sempre. Com dificuldade sai da sala, pulando as caixas. A sala estava silenciosa e descobri o motivo quando passei pelo relógio no meio da escada.
- Deus do céu! São 2 e meia da manhã
Olhei para Miguel no topo da escada.
- Eita - Ele disse coçando a cabeça – acho que não dá mais pra voltar pra casa.
- Obvio que não, fica aí, amanha eu ti despacho junto com os copos, já que vão pra mesma rua. – rindo desta vez foi eu que corri para o quarto pra escapar de um tapa.
- Ta tão engraçada você... é bom porque quero ti contar uma coisa que lembrei.
- Ta mais faz isso sem por o tênis em cima da minha cama! Tira!
- Tirei